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terça-feira, 8 de julho de 2014

Traduzir-se (Ferreira Gullar)



Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

2 comentários:

  1. Que intenso! Não conhecia o poema e nem o autor. Adorei, profunda e sincera.
    P.S. Eu sou uma amante da poesia ^^
    Bjs
    www.depoisqueeumudei.com

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  2. Que bom que gostou, se você gosta de poesias deve conhecer Ferreira Gullar, que é um ótimo poeta, e ainda é vivo! Estarei seguindo o blog, abraços!

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